O sonho de morar fora do Brasil começou desde minha adolescência. Por motivos diversos, a oportunidade somente ocorreu aos meus 26 anos de idade.

Nascido e criado na maior cidade da América do Sul, São Paulo – SP, a ideia de morar na grande Capital do Reino Unido (Londres) não me assustava, embora já sabia que iria passar momentos muito difíceis, principalmente por não ter a documentação necessária para trabalho.

A primeira barreira foi de entrar no Reino Unido sem um passaporte europeu. Fui para dois outros países antes como turista e por último Londres, onde fiquei.

Alguém aqui já havia arrumado um quarto pra eu alugar. Quando cheguei, o quarto era minúsculo, com uma beliche e um guarda-roupas bem pequeno. Tive que dividir o quarto com uma pessoa que não conhecia, um Brasileiro, que veio estudar inglês. Na casa haviam 4 quartos e neles moravam Poloneses, Espanhóis, e Checos. Minha cama não havia lençol, ou edredom. Tive que dormir com minha roupa do corpo e jaqueta pois o frio já estava começando.

Como o dono da casa era Brasileiro, ele sabia da minha situação e me ofereceu um trabalho para limpar a casa onde eu morava, uma vez por semana, e ele me daria um desconto no aluguel do quarto. Não pensei duas vezes. O trabalho não era pesado. Aspirava o pó e depois passava o mop (pano de chão). O pior era limpar os banheiros. Eram 3 privadas mas eu não tinha muita escolha. Alguém que decide morar fora do país, nas mesmas condições que eram a minha, não pode ter o luxo de escolher o tipo se trabalho, pelo menos no início.

O Tcheco que morava na mesma casa, decidiu que o Reino Unido não era o lugar pra ele e resolveu ir embora depois de 3 meses morando na Capital Inglesa. Um dos empregos dele era empurrar um Judeu numa cadeira de rodas e levá-lo para a sinagoga todos os Sábados. Ele levava o Judeu até a sinagoga, deixava-o lá e ia buscá-lo depois de 3 horas. Ele me ofereceu esse trabalho porque estava indo embora para a República Tcheca e eu aceitei.

Eu só conhecia uma pessoa quando eu vim pra Londres mas não tivemos muito contato depois que cheguei, o que dificultou o meu início aqui. Infelizmente o “Viver em Londres” ainda não existia. O Rodrigo estava provavelmente limpando privadas também naquela época. Não desmerecendo o trabalho de “cleaner” pois é um trabalho como qualquer outro. Se um dia eu precisar, farei novamente.

Embora eu já tivesse dois trabalhos, o salário que recebia, mal dava para pagar meu aluguel e o dinheiro que eu tinha estava se esgotando, pois cheguei em Londres com £900. Não saber cozinhar acabou me ajudando. Economizei no mercado. Por um mês, comi pão com presunto e mussarela no café da manhã, almoço e na janta. No segundo mês comia ovos cozidos também. Não morri e nem fiquei doente, graças à Deus.

Por falar em Deus, não sei qual é a fé de cada lendo esse conteúdo, mas nunca deixei de crer que Deus estava comigo. Depois de 2 meses, eu tinha apenas £100 e não sabia o que iria acontecer comigo pois o dinheiro que me restava já não dava para comprar uma passagem de volta para o Brasil e para mim, a ideia de voltar seria o mesmo que voltar de uma guerra derrotado. Numa fria tarde de Dezembro, sozinho no meu quarto, fiz uma oração à Deus e pedi que ele me ajudasse. Eu estava desesperado e com medo! Dois dias depois, o dono da casa me ligou e disse pra eu ir numa fábrica de doces e procurar por uma pessoa nessa fábrica. Fui no outro dia e comecei a trabalhar no dia seguinte! Coincidência? I don’t think so.

Agora empregado, acordava às 5 da manhã e começava à trabalhar as 7 da manhã. O trajeto de casa para o trabalho demorava uma hora e meia. Trabalhei na produção e trabalhava sem parar por 8 horas em pé, com um intervalo de 1 hora, de Segunda a Sexta. Aos Sábados trabalhava até à 1 da tarde. Fiquei nesse trabalho por quase um ano. Nessa época ainda dividia um quarto mas já morava numa casa melhor, só com brasileiros.

Arrumei outro emprego de “cycle courier” (o mesmo que motoboy, mas de bicicleta) e trabalhei por mais 1 ano. Logo antes de mudar para esse emprego, conheci uma Inglesa e depois de 6 meses estávamos morando juntos.

Tudo aconteceu muito rápido. Depois de um ano e meio depois de conhecê-la, nos casamos e minha vida não parou de melhorar. Fui me acostumando com a cultura do país, o período de adaptação já estava e acabando, meu domínio no idioma foi melhorando a cada dia até que arrumei um emprego como vendedor numa loja de camisas, ternos e gravatas. Trabalhei lá por 2 anos e depois comecei a estudar fotografia, em casa mesmo. Comprei alguns livros e lia vários artigos à respeito. Comecei a trabalhar por conta como fotógrafo de casamentos e trabalhei no ramo por 7 anos até então entrar para o ramo de táxis em Londres. Hoje trabalho com algumas empresas (por eu trabalhar por conta, posso trabalhar com varias empresas ao mesmo tempo) fazendo mais traslados de aeroportos para executivos. Esse trabalho está apenas começando e não quero estacionar por aqui. Tenho planos para o futuro e estou correndo atrás deles. Já tenho a minha casa própria, um sonho de muitos por aqui, mas não acho que o sucesso está baseado em coisas materiais, mas sim, em estar de bem com você mesmo. Acho que todos devem ter um objetivo na vida e tentar alcançá-lo, mesmo que pareça impossível. Como dizia Ken Robinson, um autor e palestrante Britânico: “para muitos de nós o problema não está em almejar muito e fracassar. Muito pelo contrário. O problema está em almejarmos muito pouco e nos suceder”.

Tem uma musica que gosto muito de Almir Sater e Renato de Oliveira que acho q tem tudo a ver com pessoas que correm atrás de um sonho que gostaria de citar aqui é um dos trechos da letra diz o seguinte que gostaria de deixar pra vocês:

“Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz”